12 de nov. de 2021

ARRANCANDO BACON [ TORI AMOS; CATHOLIC FATHER AND CHEROKEE MOTHER; RAPED; SINGS "SMELLS LIKE TEEN SPIRIT" ON THE PIANO





“Seis horas da manhã”

 

Eu quero ser uma senhorita

Do campo

Esfaqueada

Sangrando e repousando pela manhã

 

Eu sou uma mulher ruiva

Quando acordo

Arrancando bacon do porco

Amamentando uma espingarda de dois canos

 

***

 

“Seus filhos”

 

Veados

Vão virar purpurina

Negros

Vão virar pólvora

Veados negros

Vão virar seus filhos


XOXO



5 de nov. de 2021

RELÓGIOS QUE ESCREVEM; [ escritor hugo guimarães; poeta, contista, romancista]; [ #BALADALITERÁRIA2021 ]; [ literatura marginal paulistana; cachê de escritores]



É novembro
Não se atreva a me escrever
Para participar de uma mesa literária
Que não paga cachê
Que quase sempre tem a curadoria “dele”
Cada vez mais vejo
Eventos com curadoria “dele”
Na minha timeline
A maioria com autores
Que não são mainstream
“As bestas”
Os autores da Companhia, da Record
Sempre ganham cachê, não?
E não chamam “ele” para fazer a curadoria
What about it?
“Ele” encontrou seu ofício na vida:
(Já que seus livros são uma merda)
Ser curador de mesas literárias
De autores independentes
Ele ganha seu belo cachê de curador
E os idiotas dos escritores não ganham nada
Repito: nada = nem um centavo
Eu sou o primeiro a iniciar um movimento
Contra isso
Me convidaram para uma live
Pelo Mix Literário no ano passado
Que não pagava cachê
E adivinha quem era o curador?
Aceitei
Chegou o dia
Faltei
Qual o problema com quem faz literatura independente?
É ok nos tratar como idiotas?
Primeiro, quero dizer que não é a quantia
Não importa qual é o valor
E sim o valor
Parece pouco razoável
Me vestir
Pagar pelo metrô
Dividir minha história, minha voz
Meu estilo, meu texto
Que demorei tanto para amadurecer
Que não saiu do meu cu
Responder perguntas
Levar alguns livros para presentear
Os leitores que são sempre tão doces
Não é o valor, é o valor
Uma prostituta feia, semi analfabeta
Mal limpa a vagina
Se deita imóvel na cama
E vai embora com 200 reais na bolsa
É o que ganha por dia
Um garoto pedindo moedas no semáforo
E eu sou o quê?
Eu sou um lixo?
Não é o valor
É o valor
Se “Ele” me convidasse para algo e dissesse
Hugo, tenho esse evento, o cachê é de R$1,00
Eu iria
Com o maior prazer
Mas não
“Ele” prefere infestar o Mix
Com milhares de escritores
Que óbvio, não são pagos pela participação
Para fazer o Mix parecer tão foda
Tão completo, tão plural, tão incrível
Mas vocês não tem dinheiro
Para fazer isso
E isso é desrespeito
Isso é dizer na nossa cara
Que nossa literatura não tem valor
“Ele” deveria aprender com o Marcelino Freire
Nas mesas da Balada Literária
Todos os escritores recebem cachê
Não importa quanto
E a quantia é o que menos importa
Lá, estão nos “dando valor”
Agora querem fazer do Mix
“O” festival de literatura LGBTQIA+
Então paguem por isso
Escritor não é relógio

time
time
don't
cost
a dime
in the caverns of your feelings
where the sun will never shine



Quando tomei conhecimento do que era a Balada Literária, há pouco mais de uma década atrás, eu a imaginava tão grande e tão importante, tão avessa ao meu texto que jamais eu imaginava que um dia eu seria convidado. Pois eu fui. Em uma manhã chuvosa de 2009, o próprio Marcelino Freire me ligou e fez o convite. Aceitei na hora, sem nem saber as condições. E sim, tinha cachê. Quem pagaria para um garoto que mal tinha saído dos 20 anos, mal tinha deixado os coturnos, os cabelos multicoloridos e um primeiro livro nada comercial, violento, explícito e politicamente incorreto até a medula? A Balada Literária é esse tipo de evento.
E sorry... Fiz o que a minha imaturidade mandou eu fazer: cuspir na cara da sociedade. A plateia estava LOTADA e causei muito repúdio a fazer coisas como falar mal do Drummond.
A maioria odiou, mas Santiago disse que adorou
Bem, eu sempre fui assim: para poucos e bons
Tem muita gente aí precisando aprender.


Certa vez fui convidado para participar de uma mesa na Livraria Cultura, o que por si só seria o máximo, sou cliente Cultura + e tal. Fui convidado da pior forma possível, pelo Brunno Maia, amicíssimo do meu ex-namorado viciado em crack. Aceitei, né. Nem falei de cachê porque achei que era falta de educação, que ao final do evento, naturalmente eu seria pago. Mas não fui. Bem, parece que alguém ficou com o cachê dos escritores, não? Senão a conta não fecha...
Programação organizada pela Editora lésbica Malagueta, público majoritariamente de garotas lésbicas.
Mesa morna. É o máximo que posso falar.


Aqui formou-se acidentalmente uma pequena mesa. Eu, Marcelino Freire e o Grande Pedro Lemebel. Foi a primeira vez que eu tomei em minhas mãos o meu segundo livro, o excelente "O Estranho Mundo" (ed. Edith, 2013) o qual sua excelência, nem a Juliette, nem curador, nem editor nenhum NUNCA vão poder me tirar.
Autografar para o Lemebel não é para qualquer um (talvez você possa achar que até é), mas o detalhe é que não fui EU que pedi para assinar para ele, foi ELE que pediu para eu assinar para ele. Isso fica de presente para os invejosos e rancorosos



"IGOR NA CHUVA", meu melhor livro, vive.
Pode fazer seu distrato numa boa, querida.
Agora ter essa mulher FODA como essa como fã, não é com distrato que você vai conseguir
nem você, né Alê?



XOXO


1 de nov. de 2021

CAIXÃO DE VIDRO; "4-track demos" P J Harvey (Dorset English singer), Island 1993, Blues and Indie rock

 



“Elegia 1º de agosto de 2009”

 

Pau azul

É um pau pardo

Dentro de um preservativo sabor de uva

 

Caixão de vidro

É perambular pela cidade

É dar um rolê pela cidade

Procurando-o

 

Caixão de vidro

É caro pra caralho

Esqueça

 

***  

  

“Visita à mãe”

 

Acordei com o sol na cara

Fui-me com a chuva na cara

 

Meu anel de noivado me casa

E me arma

 

E eu quero me livrar

De.


XOXO

28 de out. de 2021

SAXOFONES - Joan Osborne, "Relish" 1995 (Kentucky blues rock singer) mercury, polydor records - she covered Bob Dylan "Man in the long black coat"

 



“Uma gaivota”

 

Pesadelos

Empurram-me aos

Restos do Titanic

Brilho do sol

Puxa-me ao

Alpinismo social

 

Meu rosto

Emerge de

Esgotos

Meu rosto

Emerge de

Saxofones

 

Dentro da roda (e o rato em cima da roda)

Eu vou me encontrar como uma gaivota

Uma gaivota.

 

***


“Satan Romeo”

 

Now I hear voices

Yeah, new classification

But that was a voice of a man

That was Satan?

Do you want to know?

I felt something sexy in your voice

When you called my name

My exactly pretty name

But I want your face

Hey why don’t you show it?

I’m here waiting

Don’t you do it

Because you are a fake?

Are you fat and ugly?

Even you don’t wishing my sex

Do you want to be my friend?

Then talk to me

Offer gold and mountains to me

In change of my soul

Soul so virgin soul or

I don’t have one

Satan Romeo

Satan Romeo. 


XOXO



23 de out. de 2021

SUI GENERIS

 



Subi a ladeira

Subi a ladeira no sol

Subi a ladeira

Subi a ladeira no sol

E por ser uma ameba disforme

Fui o primeiro a descê-la

 

A outra me olhou com uma cara de dó

Achando que eu não ia perceber

Mas foi só o começo

 

Passei todo aquele tempo

Procurando as armas do Saddam

Agora que sei

Que elas nunca existiram

Fiquei com cara de idiota

E agora eu que estou preso

 

Um dia te conto

Sobre José Matias

Sobre Florbela

O que terá trazido

Meu sangue português puro

Para cá?

O que deu em você, véia?

Vir parar nessa terra imunda

Para morrer no parto?

Vir para essa terra

Que já nasceu vulgar

E prostituta

Você tinha sonhos

E eu acordei

Com os pulsos presos

Em um tronco

Com os pulsos presos

Em um clube de Dominatrix

 

Puro?

Seu sangue já anda bem escuro

Aqui nessa orgia de sangues

Da outra parte da família

Não sei como nem por que

Veio da Holanda

Uma ruiva, olhos azuis, branca como papel

Viu o negão

Disse venha mi corazón

Casaram-se

Uma ruiva com um negro

Em pleno século XVIII

Imaginem o escândalo

Voy a bailar uña rumba lá em Cuba

Escandalosa...

Escandalosa...

Minha outra vó vê

Minha prima lésbica brincando na rua aos 10

E diz “Vamos levantar a saia dela para ver se é mulher mesmo”

Minha prima lésbica

Herdou os olhos azuis da vó Holandesa

 

Já faz duas décadas e meia

Na Odisseia do trânsito de São Paulo

Meu pai dava nome às barbeiragens

Foi a mulher!

Foi o preto!

Foi o baiano!

E chamava para o churrasco

A mulher

O preto

O baiano

Discriminação era muito seletiva e relativa

Naquele momento ninguém tinha ouvido falar

Em “racismo estrutural” ou “anti racismo”

Aquela sociedade nem sabia o que era estrutura

Aquela ruivinha, minha bisavó

Já dava tapas na sociedade

Quando a sociedade

Era apenas uma extensão da igreja

Deus livrai-me

Da bomba calórica

 

Como você pode aparecer assim?

Tão perfeito

Tão acima da linha?

O tanto

Que caiu um muro de concreto em cima de mim

E por mais que eu já tinha

Um gravador

E tinha pilhas

E tentar o diabo

Eu preferi engolir as pilhas

 

E que esse momento dure.


XOXO

20 de out. de 2021

SATAN FRIENDLY



Quando eu morrer, já deixei todo mundo avisado

Quero que mandem meu corpo para a casa dele

Todo embrulhado em papel celofane

Com cerejas dentro ao invés de flores.

 

***

 

“GO GO’s”

 

Not so young man goes to Europe

Going to carry a girl in the bag

In the case, the girl is me

 

Not so young man four years younger than me

Got four yarns of hair more than him

You knew the city would sink, man

They told you it would sink, man

 

Let it go

Don’t let it go

Suck this clover

Oh, me

Oh, me not

Move your butt to make business

But I will not get involved

In this bargain

 

If old man sees you

He will make you go

 

I must be a girl

To get inside of that bag

I fit well

Yeah I fit well

I trained it home

 

My x

Is an ass

A mess

A fake bless

The satanic lover boy is gone

Stole my shirt before go

He collects the clothes of his go go’s

Satan pretty

Satan pretty not

Don’t you?

So beautiful

So beautiful as what you don’t do

So vulgar

So rude

 

Maybe for your mother Satan is you

Well,

Gay friendly

Satan friendly

Why don’t you go to sell popcorn in the street?

Just to take pictures

“The hot popcorn seller”

Did you see how many people like you?

 

Go to your popcorn magic

Pay me a beer

Just to you start to pay all that you own me

 

And no, I couldn’t get inside that bag

Not without mutilation.


XOXO