Subi
a ladeira
Subi
a ladeira no sol
Subi
a ladeira
Subi
a ladeira no sol
E
por ser uma ameba disforme
Fui
o primeiro a descê-la
A
outra me olhou com uma cara de dó
Achando
que eu não ia perceber
Mas
foi só o começo
Passei
todo aquele tempo
Procurando
as armas do Saddam
Agora
que sei
Que
elas nunca existiram
Fiquei
com cara de idiota
E
agora eu que estou preso
Um
dia te conto
Sobre
José Matias
Sobre
Florbela
O
que terá trazido
Meu
sangue português puro
Para
cá?
O
que deu em você, véia?
Vir
parar nessa terra imunda
Para
morrer no parto?
Vir
para essa terra
Que
já nasceu vulgar
E
prostituta
Você
tinha sonhos
E
eu acordei
Com
os pulsos presos
Em
um tronco
Com
os pulsos presos
Em
um clube de Dominatrix
Puro?
Seu
sangue já anda bem escuro
Aqui
nessa orgia de sangues
Da
outra parte da família
Não
sei como nem por que
Veio
da Holanda
Uma
ruiva, olhos azuis, branca como papel
Viu
o negão
Disse
venha mi corazón
Casaram-se
Uma
ruiva com um negro
Em
pleno século XVIII
Imaginem
o escândalo
Voy
a bailar uña rumba lá em Cuba
Escandalosa...
Escandalosa...
Minha
outra vó vê
Minha
prima lésbica brincando na rua aos 10
E
diz “Vamos levantar a saia dela para ver se é mulher mesmo”
Minha
prima lésbica
Herdou
os olhos azuis da vó Holandesa
Já
faz duas décadas e meia
Na
Odisseia do trânsito de São Paulo
Meu
pai dava nome às barbeiragens
Foi
a mulher!
Foi
o preto!
Foi
o baiano!
E
chamava para o churrasco
A
mulher
O
preto
O
baiano
Discriminação
era muito seletiva e relativa
Naquele
momento ninguém tinha ouvido falar
Em
“racismo estrutural” ou “anti racismo”
Aquela
sociedade nem sabia o que era estrutura
Aquela
ruivinha, minha bisavó
Já
dava tapas na sociedade
Quando
a sociedade
Era
apenas uma extensão da igreja
Deus
livrai-me
Da
bomba calórica
Como
você pode aparecer assim?
Tão
perfeito
Tão
acima da linha?
O
tanto
Que
caiu um muro de concreto em cima de mim
E
por mais que eu já tinha
Um
gravador
E
tinha pilhas
E
tentar o diabo
Eu
preferi engolir as pilhas
E
que esse momento dure.
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